Romance espacial
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Nave espacial Pégasus. Dia 215.
O comandante da nave estava na sala de controle, analisando dados recebidos de uma nova galáxia descoberta há poucos dias. Concentrado em gráficos de espectroscópicos dos diferentes comprimentos de onda observados pelo telescópio instalado na nave, ele mal piscava. Sua inteligência me fascinava. Com sua grade acadêmica, também, não era de se impressionar que alguém como eu se interessasse ou o admirasse. Tendo iniciado sua vida acadêmica numa universidade de renome, embora pequena se comparada com outras de fama mundial, rapidamente se destacou. Cursando física na época, ganhou uma bolsa para estudar na universidade Harvard. Saiu de lá graduado em física e matemática, direto para o mestrado em Oxford, aonde estudou astrofísica e cosmologia. Seu doutorado, em Stanford, teve uma das mais criativas e notórias teses de todos os tempos, e antes dos 35! E eu estava naquela nave com ele. Era quase inacreditável.
Eu havia parado naquela nave por uma feliz coincidência. Eu cursava física numa universidade do interior, uns anos antes. Sempre fora entrosada e extrovertida, mas meu desempenho lá não era dos melhores. Eu tinha um péssimo hábito de me sair mal nas provas, e isso nunca me rendeu muitos frutos bons. Apesar de muitos anos difíceis na graduação, me formei relativamente rápido, pois minha entrada na graduação foi quando eu era bem jovem. Fiz duas especializações: em física de partículas e astrofísica. Ambas em uma universidade irlandesa. Indicada por um professor meu, que me conhecia bem, pois me dera aula desde o primeiro semestre e desde então acompanhara minha vida acadêmica de perto.
Nessa universidade irlandesa, foi que conheci um outro professor que me permitiu entrar nesse projeto. Por uma série de outras coincidências, junto com o comandante. No começo do nosso relacionamento, era tudo estritamente profissional, mas agora eu o olhava com outros olhos. Enquanto arqueava os ombros para melhorar a postura cansada que carregava, olhava atentamente para cada gráfico a sua frente. A tela do computador principal parecia um grotesco arranjo de cores misturadas em linhas caóticas.
Eu estava sentada numa poltrona localizada perto da escada há uns 3 metros do painel de controle, com as pernas no braço da mesma ( pois ela era grande, chamaria até de sofá), lendo Emma da Sra. Austen. Meio inapropriado para uma física, mas os romances me tentavam. Cada vez que eu dava um sorriso por alguma conversa entre o Sr. Knightley e Emma, o comandante parecia inclinar levemente a cabeça para trás. Gostava de observá-lo nas suas atividades diárias. Ainda mais quando só havíamos nós dois naquela nave.
Havia uma passagem que eu gostava desse livro, e portanto, resolvi ler em voz alta:
- “ Sr. Knightley ... “, era como você sempre me chamava. “ Sr. Knightley”.. E por causa do hábito, deixou de me parecer formal. Quero que me chame de outro modo, mas não sei como.
- Lembro-me de uma vez ter chamado você de George, em um daqueles meus adoráveis acessos de malcriação, cerca de dez anos atrás. Fiz isso porque pensei que iria ofendê-lo, mas como você não fez objeção em não reagiu, nunca mais o chamei assim.
- E será que pode me chamar de George agora?
- Impossível! Eu nunca poderia dirigir-me a você de outra maneira a não ser como “ Sr. Knightley”. Não prometo sequer imitar a elegante concisão da Sra. Elton, chamando-o de Sr. K., mas posso prometer – continuou ela, rindo e ficando vermelha -, posso prometer chamá-lo pelo seu nome de batismo uma vez. Não direi quando, mas talvez você possa imaginar onde.. No lugar onde as pessoas juram amar-se até que a morte as separe.
Tendo escutado todo o meu recital de parte da história, o comandante se virou para trás, com olhos atentos e vermelhos de trabalho árduo. E disse:
- e ela o chamou?
- do que? – eu disse – observando seus ombros largos e seus braços firmes e fortes se apoiando na cadeira enquanto se virava para trás.
- de George.
- Não sei, a história termina antes de sabermos, mas suponha-se que sim. - Hmm.. você é diferente – ele disse reparando nas minhas pernas cruzadas sobre o sofá.
- diferente como?
- Não sei, você é diferente de tudo que eu já conheci. Com todos os seus livros, e romances e hábitos que só você tem..
Não conseguia dizer uma só palavra diante de tal comentário. Minha respiração estava ofegante. E eu não conseguia manter meus olhos nos dele por um só instante. Não entendia aonde ele estava querendo chegar. Então me sentei, pondo o livro sobre a mesa. E fiz a coisa mais insensata que já fiz durante minha vida, caminhei até o comandante. Essa cena foi meio nostálgica, já havia acontecido nos meus sonhos, ele se levantou e puxou minha cintura no momento em que seus braços alcançaram-na.
O beijo que ele me deu, foi tão profundo que foi como se eu fosse inundada por toneladas de água. Ondas de choque e paixão irradiavam de cada parte do meu corpo. De súbito suas mãos estava na minha cintura, e depois deslizando pelas minhas coxas e eu só conseguia relaxar e sentir seu toque. Eu me afastei por um momento, ofegante, apenas para visualizar como ele era de perto. Lindo. Sua barba me excitava mais que tudo, e em suas costeletas haviam algo de sexy e inglês. Algo que eu adorava. Passei os dedos pela barba grossa, fazendo movimentos que
acompanhavam as costeletas dos dois lados. Segui para os cabelos, puxei-os, arrranhei sua cabeça, e a cada movimento meu, ele fechava os olhos.
Quando finalmente parei de brincar com seus cabelos, ele me empurrou de leve para trás com o braço direito. Eu caí em seu braço esquerdo, que me manteve apoiada e segura, e com o direito novamente me ergueu. Então me levou para o seu quarto. Me deitou na cama, com toda a gentileza possível, depois deitou-se do meu lado. E com o braço apoiado na cama, ficou de lado, me olhando. Avaliando-me, seus olhos vagam tentando adivinhar o que haveria por baixo das calças de malha e do casaco. Sua mão livre repousou no meu seio esquerdo, em cima do meu coração, e esse gesto foi tão amável que quase me derreti. Ele movia sua mão em movimentos circulares ao redor dele, e depois seus dedos abriam o zíper do casaco.
Ele me chamou de linda enquanto se erguia acima de mim, e com habilidade me deixou só de sutiã. Sua boca não saia da minha, e quando saía, se concentrava em meu pescoço. Eu ardia por dentro e por fora, e ele me excitava de uma forma avassaladora. De repente, me vi só com peças íntimas e senti uma necessidade de vê
lo sem suas roupas também. Dessa vez fui eu que me concentrei em despi-lo. Com destreza que eu não sabia que tinha, tirei seu casaco, depois sua camisa. Até que vi seus peitos e decidi que eu tinha que senti-los em mim. Meus olhares se voltaram pra todo aquele esplendor de corpo e ele entendeu. Retirou meu sutiã e se arqueou de modo que nos tocássemos de forma quente e suave. Nossos mamilos se tocavam e aquilo me excitava de tal forma que me pus a gemer baixinho.
Ele se sentiu encorajado com meus suspiros de desejo, e terminou o serviço de nos despir. E eu fiquei diante da visão mais atordoante e sexy da minha vida. Seu membro ereto me incentivou a tocá-lo e foi o momento de maior intimidade com um homem em toda a minha vida. Mas não valia a pena comentar naquele momento, que eu era virgem. Na verdade, nem sequer me sentia como uma. Segurei seu pênis entre minhas mãos e aquilo me parecia veludo. Ele gemeu de prazer, me encorajando. Deitou-se então e eu me sentei em sua cintura, abaixo de seu membro, sem tirar as mãos daquele conforto. Eu amei o modo como parecia se encaixar nas minhas mãos.
Acariciei-o de leve, de modo que o prazer se misturava a cócegas. E ele ria enquanto delirava com meus toques. Aquilo me fez rir também, e passei a realizar movimentos mais longos e a segurar com mais força. Ele segurou minha mão e me mostrou como fazer. Eu podia apertar e puxar e ele só sentia cada vez mais prazer. Abaixei-me e passei a língua na extensão dele, enquanto ele suspirava. Contornei-o com beijos molhados e leves, depois o enfiei na boca procurando não machucá-lo com os dentes. Aquilo o fez contorcer as penas e se agarrar aos meus cabelos. Eu descia e subia a boca pelo seu membro rígido e minhas mãos arranhavam suas pernas.
De repente, ele ergueu minha cabeça e me deitou na cama. Seu pênis ficou entre minhas pernas e eu senti que queria aquilo mais que tudo.
- Entre – eu o convidei, implorando. – por favor.
- você quer que eu entre? – disse o comandante, com sua voz maliciosa e sedutora. - sim – eu respodi gemendo – agora, por favor. Entre.
Ele não cedeu de imediato ao meu pedido, simplesmente se pôs a mexer a cintura para que seu pênis roçasse a minha intimidade. E a provocação me fez ficar mais molhada do que eu já estava, puxei seus cabelos seu rosto e lhei dei um beijo. E ele então colocou seu membro no lugar aonde ele devia estar. E então sussurrou em meus ouvidos:
- relaxe – e seu hálito quente foi suficiente para me fazer relaxar.
Senti uma pontada assim que ele me penetrou, mas não deu tempo de dar-lhe importância, pois estava mais preocupada com a boca dele pressionando a minha. Rajadas de prazer me atingiam cada vez que ele se movimentava para frente, invadindo-me. Eu gemia alto agora, e ele também. Nossas vozes formavam ecos agonizantes de paixão. Meus sentidos estavam alerta ao máximo, e meu corpo se rendia ao do comandante.
- Oh, comandante.. Por favor, por favor..
- Sim, sim – ele dizia
Seus movimentos se tornaram mais rápidos e ele gemia mais alto também, assim como eu. Meus gritos de prazer ecoavam pela nave, e se perdiam nas salas e ante-salas. Eu senti algo em mim vibrando e implorando por mais. O mundo pareceu girar por um instante, antes de tudo virar de cabeça para baixo e algo dentro de mim explodir e arder em chamas. Ele deu uma ultima estocada e deu um gemido demorado e anestesiado no mesmo instante em que eu gritei delirando. E eu soube naquele instante que havíamos terminado. Eu tive uma vontade estranha de dizer algo que transparecesse tudo o que eu estava sentindo naquele momento e soltei a primeira coisa que me veio à mente:
- Eu te amo comandante.. – minhas bochechas coraram logo após dizê-lo e eu me senti tola e ingênua. Mas então ele disse:
- eu também te amo minha linda. Desde o primeiro momento em que te vi, soube que você era minha. Nunca tinha encontrado alguém tão parecido comigo como você. E ao mesmo tempo tão diferente. Não sei como pude resistir durante todo esse tempo que estive nesta nave com você. Acho que eu quis fazer isso desde que saímos da terra.
- ai meu deus, eu também .. – e eu sorri, involuntariamente, diante dessa descoberta.
Deitados um do lado do outro, eu escorei a cabeça em seu peito, e ele enlaçou a mão na minha cintura de forma protetora. E assim ficamos, sem dizer mais nada, até que adormecemos um nos braços do outro. Acordamos na manhã seguinte, ou o que considerávamos como manhã. O comandante fez seu relatório matutino diário de 15 minutos de vídeo. E depois me preparou um café da manhã maravilhoso (na medida do que era possível se preparar, com comida de astronauta).
Passamos o dia deitados falando de como eram nossas vidas na terra, de como havia sido nossos anos na faculdade. De gostos pessoais. E é claro, fazendo sexo. Amor. Transando. E todas as denominações que o que estávamos fazendo podiam receber. Passamos dias desse jeito, e eu me espantava que o comandante tivesse largado praticamente todo o seu trabalho com a nave para me dar atenção. Então um belo dia, depois de um banho relaxado eu perguntei:
- Comandante?
- Sim
- como vão os estudos espectroscópicos da galáxia? Parece-me que o senhor os deixou totalmente de lado.
Ele me pareceu empalidecer por um instante, mas achei que fosse efeito da luz dos botões ao lado da cama. Ele estava sentado nu ao meu lado, parecendo um deus nórdico. E eu esparramada com as mãos passeando pela sua barriga. Ele estava com a mão no meu seio, brincando de apertá-lo e parou quando disse:
- na verdade, nunca estive analizando dados espetroscópicos de nenhuma galáxia. Nunca houve galáxia de fato. Estamos em rota de colisão com um buraco negro. Me desculpe por estar dizendo isso somente agora, eu estava tentando arrumar um jeito de desviar a nave, mas ele é grande demais para que pudéssemos alterar o caminho da nave seguramente, é impossível. – suas mãos estavam suando enquanto dizia isso. E eu podia ver a agonia em seus olhos.
Eu estava pasma. Todos aqueles meses sentado em frente a monitores, diante de pilhas de papéis e dados. Meu coração estava acelerado, meses de preparo, dados recolhidos, estudos feitos e eu só conseguia pensar em nós dois. Na nossa relação, aonde iríamos parar. Não queria deixar de viver logo agora que tinha começado. Ele então me puxou mais para perto de si, e pôs a mão na minha cabeça passando a mão em meus cabelos. Ele me parecia tão calmo, que eu nem consegui surtar como pensei que surtaria. Então perguntei:
- por que?
- por que o que?
- você está tão calmo diante de uma situação dessas? Nós vamos morrer daqui a nem sei quanto tempo, quanto tempo afinal? Até quando estaremos numa zona estável? - 2 semanas. É a razão pra eu não ficar mais empanturrado naquele painel de controle.
- 2 semanas? Mas.. Mas..- não conseguia mais pensar – como o senhor consegue ficar tão calmo??
- por que eu tenho você – disse com a voz mais terna que eu já tinha escutado – tenho tudo o que eu sempre quis bem aqui comigo, e vou ficar feliz se puder morrer te amando. E sei que vou viver mais nessas duas semanas do que o que eu vivi durante toda a minha vida. Então não tenho com o que me preocupar.
- Eu te amo comandante, sempre amarei.
- Eu te amo minha linda, mais que tudo.
E me beijou novamente, e voltamos a fazer o que vínhamos fazendo todos esses dias. 8 dias 13 horas e 2 min depois
- querida, o que quer que aconteça, eu te amo.
- também te amo comandante – estou com medo
- não tenha, eu te salvarei – e dizendo isso, tomou minha mão enquanto mergulhávamos num futuro desconhecido.
O tempo desacelerou, os relógios pararam. E tudo se curvou. Tempestade de luz. E de repente, só o escuro. Ouvi o comandante me chamando duas ou três vezes, antes de tudo sucumbir à borda de um apocalipse estelar. Espaço e tempo se fundiram e eu morri.
Acordei alguns universos depois e o comandante ainda estava com a mão na minha.
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